A região vinícola mais famosa da Espanha é La Rioja. Os vinhos desta província estão espalhados por todo o mundo e não é à toa que é uma das duas regiões da Espanha que têm o selo DOCa (Denominación de Origen Calificada). A outra região que pode ostentar esta marca é o Priorato. Pouco conhecida do grande público, o Priorato é a meca espanhola de vinhos de alto padrão e sinônimo de alta gastronomia. Onze em cada dez enólogos ou sommeliers que vem a Espanha invariavelmente visitam o Priorato. As bodegas (vinícolas) são menores, com produções artesanais e em pequenas escalas o que dá um toque de exclusividade aos vinhos.
Foi esta região que escolhemos para levar os turistas que contratam nosso serviço de guia de turismo e são apaixonados por vinhos. O tour dura o dia todo e visitamos duas bodegas com direito a degustação. No meio do dia temos uma parada para um delicioso almoço regado a um bom vinho.
A primeira visita é na renomada Scala Dei. A História da bodega nos remete ao século XII, mais exatamente em 1192, quando os monges que lutaram na expulsão dos mouros da Catalunha (Reconquista) foram recompensados com terras na região pelo rei de Aragão. Os monges permaneceram vagando por suas terras a espera de um sinal divino sobre o que deveriam fazer. Um dia ao conversar com um pastor de ovelhas da região que fazia a siesta todos os dias embaixo da mesma árvore escutaram a respeito do seu sonho que se repetia. No sonho a árvore sob a qual ele dormia se transformava em uma escada por onde desciam e subiam os anjos ao céu. Era o sinal que tanto esperavam e assim surgiu o nome da bodega Scala Dei (Escada de Deus em latim).
A bodega como já mencionado é artesanal. Os vinhos são produzidos da mesma maneira que os monges o faziam no século XII. E deve funcionar, pois a reputação dos vinhos impecável. O Pla dels Angels por exemplo foi considerado o melhor vinho rosé da Espanha e está entre os dez melhores do mundo com 92 pontos no Guia Gourmet 2016. São apenas três mil garrafas por safra. Isso é o que se pode chamar de exclusividade.
Além de vinho você vai conhecer um pouco mais de História também. Foi ali perto que se deu a histórica Batalha del Ebro durante a Guerra Civil Espanhola. Após cruzar o rio Ebro as forças nacionalistas do ditador Franco chegaram a Scala Dei que na época era depósito de armas e munição dos republicanos. Levaram consigo todas as armas que puderam carregar, mas a quantidade era tanta que tiveram que queimar boa parte delas. É por isso que parte do teto da adega até hoje é negro da fuligem provocada pela queima das armas. Na parede de fora foram conservadas as marcas de bala dos fuzilamentos dos republicanos capturados.
Voltando ao vinho, nos foram reveladas algumas curiosidades. Você sabe por exemplo porque as garrafas de vinho têm 750 mililitros enquanto que as garrafas de destilados ou outras bebidas tem um litro? Na época em que o vinho começou a ser engarrafado as garrafas eram sopradas (como os cristais de Murano) e a capacidade pulmonar de um adulto para uma só soprada é de exatamente 750 mililitros.
O enólogo Daniel também nos contou sobre os problemas que enfrentam com os javalis selvagens da região. Segundo ele as cercas elétricas já não continham os javalis ávidos por comer as doces uvas dos vinhedos. Eles começavam pelas uvas mais aromáticas, depois atacavam as mais doces e deixavam por último as adstringentes. A solução encontrada então foi fincar estacas com feromônios que tem um odor que espantam os animais.
Na degustação mais surpresas e novas descobertas. Uma degustação sempre começa pelos vinhos brancos, depois passamos aos rosés e finalizamos com os tintos. Mas nesta região de vinhos tão especiais a coisa é diferente. Os vinhos brancos e rosés por aqui também são feitos com uvas vermelhas e por isso são tão fortes e encorpados quanto os tintos, portanto a ordem de servir pode ser invertida e só aqui você vai saborear um vinho branco depois de um tinto. Devem estar se perguntando, mas como um vinho pode se tornar branco se a uva é vermelha? Simples explicação. O que confere cor ao vinho é a casca da uva. Neste caso o vinho branco de uvas vermelhas é fermentado sem a casca. Já o vinho rosé fermenta com casca por apenas duas horas e logo depois a casca também é removida. Para completar o “pueblo” onde está a bodega tem apenas 29 habitantes e pertence ao município de La Morera de Monsant que abriga 165 pessoas.
Já devem ter percebido que a região do Priorato é realmente diferenciada tanto em termos de qualidade de vinho quanto em história e curiosidades. Mas vamos a segunda visita.
Nossa segunda parada foi na renomadíssima Clos Mogador do não menos conhecido enólogo René Barbier. A história da família e da bodega daria uma novela, aliás verão mais adiante no post que realmente virou novela. A família Barbier fugiu da praga da filoxera que devastava os vinhedos do sul da França em meados de 1870. Na época se acreditava que os Pirineus eram uma barreira natural que impediria a propagação da filoxera para Espanha. Léon Barbier então compra terras na região de Tarragona e se instala com a família para produzir vinhos que era o que realmente sabia fazer. Seu filho, neto e bisneto todos chamados René, deram continuidade ao trabalho do patriarca e hoje a Clos Mogador é dirigida por René Barbier (o terceiro da dinastia).
Tudo ia bem até o final da Guerra Civil Espanhola quando eles perderam tudo para os bancos inclusive a bodega e o direito de usar o nome “René Barbier” em seus vinhos. Hoje os vinhos que levam este nome pertencem a outros proprietários e apesar de bons, são vinhos de mesa de baixo valor agregado. Portanto não confundam os rótulos que levam o nome “René Barbier” com os vinhos da Clos Mogador produzidos por René Barbier.
Voltando de anos de estudo na Borgonha René Barbier (o terceiro) estava ávido para colocar em prática os conhecimentos adquiridos. Tentou sem sucesso reaver o nome para seus vinhos. Foi então que lhe veio a ideia de usar o nome Mogador. Seu tio avô havia se casado com uma importante romancista francesa que escreveu a História dos Barbier em forma de novela. Para não expor o sobrenome da família ela usou o pseudônimo Mogador para a família de sua novela chamada de Le Gens de Mogador (A gente de Mogador). E foi assim que René indiretamente conseguiu reaver o nome da família para seu vinho.
A visita é bastante completa inclusive com caminhada entre os vinhedos. Nosso anfitrião explicou todo o processo de produção artesanal. Não é usado inox na produção do vinho. A fermentação é feita em tanques de fibra de vidro, madeira ou cimento. O mosto é prensado em uma prensa de azeite de oliva (menos agressiva) e de tempos em tempo o senhor Barbier em pessoa degusta para verificar a qualidade. Cerca de 60% do vinho contido no mosto é descartado antes de ser prensado. Lembrando que aqui o objetivo final é uma qualidade inigualável e não milhares de hectolitros de produção.
Mais uma prova do trabalho de artesão é que uma vez colocado em barricas de carvalho francês o vinho tem uma perda por evaporação. O vinho evaporado dá lugar ao oxigênio que é extremamente prejudicial ao vinho (oxidação). Assim de tempos em tempos as barricas são repostas manualmente uma a uma com vinho para evitar o processo de oxidação.
O enólogo da Clos Mogador também nos explicou a diferença entre barricas de quinhentos e mil litros. Para vinhos mais fechados (que demoram para desprender aromas) as barricas de quinhentos litros são as mais indicadas pois tem uma proporção maior de oxigênio para cada litro de vinho. Assim são mais aeradas e facilitam a “abertura” do vinho. Já as barricas de mil litros são mais indicadas para vinhos que desprendem aromas mais facilmente e não necessitam tanto tempo de decanter.
As uvas típicas da região do Priorato são a Cariñena e Garnacha. Os assemblages (mistura de uvas) geralmente são feitas usando estas duas uvas mescladas com Cabernet Sauvignon.
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